Quando Lisboa Tremeu

             Quando Lisboa Tremeu

 

  QUANDO-LISBOA-TREMEU.-2          Livro espesso de Domingos Amaral, quase quinhentas páginas que faz uma recriação romanceada sobre o terremoto que assolou Lisboa no dia de Todos os Santos de 1755.  É um romance mais ou menos histórico editado pela Casa das Letras.

            Domingos de Amaral, formado em Economia pela Universidade Católica Portuguesa, antes de ser romancista, foi jornalista. Neste romance, não li outro dele antes, está tudo bem estruturado; pode-se seguir toda a cronologia dos factos perfeitamente. Às vezes, o mesmo facto e interpretado por diferentes personagens que, ao contrário do que acontece noutros romances, cada um não faz uma interpretação diferente dos acontecimentos. Não, não é isso! O que acontece é que cada um se depara com este terrível acontecimento desde um lugar diferente, é o narrador quem faz o relato desde a sua posição, mas completando com o testemunho dos outros.

            O livro não tem nenhum índice, mas está dividido em quatro partes, que não direi, porque o nome delas diz muito da história e não queremos revelar muito, apenas umas pinceladas. Os capítulos não têm nome, mas ao menos têm número, fugindo das horríveis tendências atuais de não pôr nada. Pois tenho saudades daqueles tempos em que os romances tinham nome nos capítulos Há 50 capítulos como as Sombras de Grey. Mas, e isto é maravilhoso; há um epílogo. O epílogo é um recurso precioso quando o autor não sabe bem como fechar a história. Mas sendo bem resolvido é um bom final.

            Como é óbvio numa história de terremotos, tanto mais se é um terrível e com mais abalos, há destruição, há morte, fome, sede… Cada um se esquece de quem é, se um dia teve um bom coração e tudo é uma luta pela sobrevivência. Mas também face à catástrofe, às vezes, do fundo das almas, nascem sentimentos altruístas, corajosos.

            Jamais leio as orelhas de um livro nem a sinopse antes de ler o livro.  Por isso a minha tarefa é um bocado difícil. Tento criar interesse pela obra sem revelar nada importante. O leitor, segundo a minha opinião, tem de chegar virgem ao encontro da história. Não preciso de seguidores; são ideias próprias.

            Mas alguma coisa tenho de dizer. É a história de uma catástrofe, de uma Lisboa que foi e não vai voltar a ser como antes. Há o fanatismo religioso, a crença de um castigo de Deus numa Lisboa religiosa e fanática, até mesmo o rei D. José é influenciado pelo seu confessor. Mas também há a visão cética de um inglês, a coragem de um rapaz, as provocações de uma escrava preta, paradoxalmente a única criatura livre do romance. Mas nomeadamente é a história de dois homens prisioneiros e uma rapariga bonita, desesperada na prisão da Inquisição, que esse dia vai ser queimado na fogueira. E estas pessoas encontram a chance de liberdade no meio de esse cataclismo.

            Para concluir, gostaria de dizer que é um romance muito português, porque o pior de todos, o mau de fita é um espanhol chamado o Cão Negro. E os bandidos piores, a sua gangue.

            Parece ser que os nossos queridos vizinhos, ainda têm de expulsar algum demónio.

            Manuel de Portugal.

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